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CAPÍTULO II
CAPÍTULO II

Capítulo II


Maria estava tão acostumada não ter valor que por medo de perder o que não tinha, optou por não dividir com ninguém sua história de amor, aquele tesouro seria só seu. Seu príncipe ou rei, como costuma pensar, era mais velho do que ela, a olhava como uma menina e certamente riria dela se percebesse alguma coisa e se ele que sempre lhe tratava com tanta atenção, cuidados e carinhos, riria dela, o que fariam os outros que estavam acostumados a nem sequer perceber sua existência ou considerar o que ela sentia? Ela estava decidida a nunca contar nada a ninguém! Era muito melhor guardar sua fantasia e toda a atenção que tinha de seu rei do que perder tudo por arriscar ganhar um pouco a mais. E afinal, o que seria aquele pouco a mais? Maria nunca havia namorado, não conhecia de amor e relacionamentos nada além do já vivera. Sonhava em casar e construir uma família como a dos Waltons, mas sabia que era muito nova para isso, de namoros conhecia apenas o que ouvira nos contos de fada, sobre vidas tristes que começavam com muitas brigas, maldades, solidão e carência, mas que um dia aparecia um príncipe e uma fada madrinha que salvavam a pobre menina do calabouço escuro para ser feliz para sempre. Nos momentos mais difíceis Maria lembrava que já havia conhecido seu príncipe e que um dia ele haveria de lhe salvar e seriam felizes para sempre num lindo castelo ou mesmo numa fazenda como a dos Waltons, para ela isso não faria a menor diferença.

 

E assim foi crescendo Maria e na mesma proporção ia crescendo o amor e admiração por seu príncipe. Em sua casa a família seguia com suas mazelas sem admitir que as tinha, sempre com uns culpando os outros sem que ninguém se preocupasse em buscar um remédio para curar ao menos as feridas que cada dia pareciam maiores aos olhos de Maria, mas que ninguém percebia. Seu príncipe, ao contrário, lhe parecia cada dia mais forte, mais nobre e mais lindo!

 

A esta altura de sua vida Maria já tinha acumulado bom número de discos e seu mundo estava totalmente inundado pela vida, pelos gostos e sons de seu príncipe. Ele agora parecia se orgulhar dela e repetia constantemente que ela tinha ar de intelectual, o que fazia Maria praticamente levitar... Ninguém mais enxergava suas qualidades, por mais que ela se esforçasse para demonstrá-las. Ao contrário, sofreu em sua casa o pior tipo de dor, a que vem de uma espécie de bullying cruel implantado e alimentado por quem está muito próximo e mina diária e silenciosamente a confiança e autoestima com o objetivo de destruir as forças do outro, para levá-lo à exaustão total apenas pelo prazer de vê-lo cair e ficar de pé sozinho, vitorioso numa guerra que nunca existiu, mas que foi criada por ele apenas para sua diversão, debaixo dos olhos dos pais, que não por maldade ou negligência proposital, mas porque ocupados com sua competição e sofrimento, simplesmente não viam nada. Mas e daí? Nada daquilo importava a Maria, que para desespero de seu algoz, seguia sorrindo, confiante e dia a dia conquistando novos amigos fora dos portões de casa, porque Maria não aprendera apenas a sonhar, mas a acreditar em seu sonho com todas as suas forças e ela sabia que um dia tudo aquilo iria passar e ela seria feliz para sempre porque ela não era má, ela só queria amar e ser feliz com a família que criaria com seu príncipe. Eles eram os mocinhos, não estavam fazendo ou desejando o mal a ninguém, então era claro que iriam vencer! O bem sempre vence e Maria sabia que um dia havia de vencer.

 

Com seu coração tomado pela certeza de que um dia seria feliz, Maria suportou com bravura saber que seu príncipe estava namorando com outra menina do bairro. Quando a dor quis se tornar grande demais e tomar a forma de decepção, Maria optou por olhar tudo aquilo com os olhos da razão e entender que ele já estava na idade de namorar e ela não e que então aquilo só duraria até que ela crescesse mais um pouco e ele pudesse perceber que não era mais uma menina, mas que já havia crescido e chegara a sua hora de se aconchegar em seu abraço. Forçou-se a ser racional e conseguiu, mas não foi fácil e custaram-lhe muitas lágrimas escondida à noite ou durante o banho, trancada no banheiro. Como conforto, permaneciam as músicas, as pequenas conversas e a atenção sempre enorme e carinhosa que recebia dele, até o dia em que ela pareceu sentir sobre si o toque da varinha de condão de sua fada madrinha, quando num momento totalmente encantado, seu príncipe durante uma conversa comum, num ato incontido de carinho, lhe deu um abraço, o maior, mais lindo, mais carinhoso abraço que ela já tinha recebido. Ele estava a seu lado e simplesmente passou o braço por sobre seu ombro puxando-a para si com firmeza. Enlaçando-a com apenas um braço, com a força e firmeza própria apenas de príncipes guerreiros, puxou o copo dela para junto do seu, olhou dentro dos seus olhos e sorriu um sorriso que iluminou todo o seu rosto. O olhar que ele lhe lançou, com o canto dos seus lindos olhos verdes, ficaram tatuados para sempre na retina de Maria e aquele abraço que durou um algo em torno de um minuto, foi um divisor de águas em sua vida, nele ficou guardada toda a sua meninice porque ao fim do abraço o príncipe encantado soltou uma jovem que já conhecia a delícia de sentir o cheiro e o toque da pele do homem amado.

 

Ao fim daquele abraço, Maria foi para casa tomada por um turbilhão de sentimentos. Estava feliz, muito feliz, mas também nervosa e ofegante, suas pernas e mãos estavam trêmulas, seu coração acelerado e seus olhos viam repetidos por todos os cantos da rua o olhar e o sorriso de seu príncipe. Queria voltar para aquele abraço, mas tinha medo. Medo de que? Ela mesma se fazia repetidamente aquela pergunta. Ela não fizera nada, foi ele quem de repente lhe abraçou... Será que ele também gostava dela? Maria gostou de pensar nesta hipótese, talvez ele também gostasse dela em segredo e para que este pensamento não fosse corrigido por uma desagradável realidade, ela optou em continuar com sua estratégia silenciosa e com todas as suas possibilidades secretas, afinal ela agora tinha com o que embalar os seus sonhos enquanto esperava o tempo passar e chegar o dia de seu salvamento, agora ela tinha aquele abraço para lhe confortar sempre que quisesse, pois lhe bastava apenas fechar os olhos para que a firmeza dos braços de seu príncipe lhe tomasse, seu cheiro invadisse o ambiente e a luz do seu sorriso refletida naquele olhar absolutamente encantador, iluminasse toda a sua alma. Maria havia crescido e pela primeira vez, não havia crescido forçada pela dor, mas acolhida num abraço.

 

A vida seguia seu rumo, mas algo estava diferente entre Maria e seu príncipe. Nunca tocaram no assunto e agiam como se nada tivesse acontecido, mas vez por outra, quando seus olhares se cruzavam, uma frase absolutamente silenciosa era dita e se estabelecia uma cumplicidade sem explicações, mas nem por isso menos verdadeira. Aquele olhar era um sinal, Maria acreditava firmemente nisso e seguia vivendo a certeza de que havia de estar cada vez mais perto o dia de seu resgate do calabouço.

 

O príncipe de Maria também crescera e já trazia no rosto os traços do grande homem que seria, trabalhava muito usava o dinheiro com inteligência e não demoraria a comprar seu primeiro carro, um carrinho velho que ele cuidava como se novo fosse. Era guerreiro, cuidadoso e caprichoso e cada dia mais apresentava em seu comportamento os traços de um verdadeiro nobre. Ultimamente parecia querer proteger Maria e não permitia que se aproximassem dela rapazes que lhe parecessem duvidosos ou não. Na realidade não permitia que nenhum rapaz se aproximasse dela e não demorou a formar com o pai de Maria uma barreira praticamente intransponível aos rapazes do bairro. Foi nesta época que o pai de Maria voltou-se para ela. Ele pareceu enxergar e compreender as dores e necessidades de Maria através do comportamento protetor de seu príncipe e deixou de lado as suas próprias lutas e dores para aproximar-se dela e tentar compensar o vazio formado por tantos anos em que ela foi deixada à margem da família. Este foi o início de um momento muito especial da vida de Maria, momento de um reencontro com o amor. Seu pai mostrou-se um homem surpreendentemente sábio. Dentro de seus inúmeros defeitos ele era um homem nobre e de coração justo e bom onde não havia lugar para ódio e ressentimentos. Foi nesta época de reencontro e proximidade que Maria conseguiu finalmente compreender o motivo de tantas brigas que lhe causaram tantas dores e cicatrizes na infância.

 

A mãe de Maria, criada pela avó, alimentava em si um forte sentimento de rejeição que a tornava uma mulher extremamente ciumenta, frágil e insegura, apesar de sua aparente fortaleza. Casada com um homem marcado pelos traumas da segunda guerra, teria que ser forte e sábia para edificar seu lar, mas também tinha suas marcas e por isso não conseguia dar ao marido a força que lhe era necessária para fazê-lo forte diante de suas inúmeras fraquezas, ao invés disso sofria e insensata, transformava seu sofrimento em raiva, amargura e ressentimentos de uma forma que não conseguia mais enxergar o amor imenso que seu marido sentia por ela. Com tantos traumas, fraquezas, dores e mágoas dos dois somados a nenhuma vontade de compreender e perdoar por parte de sua mãe, Maria teve a infância povoada de discussões desnecessárias que lhe renderam sofrimento e solidão em toda a primeira parte de sua vida, mas ela conseguiu em si mesma o antídoto para tudo isso sonhando e acreditando. Agora, esticando os braços, achava já quase conseguir tocar a felicidade, diante de uma das mãos o pai que parecendo despertar de um sonho ruim, estava cada vez mais próximo, zeloso e carinhoso e diante da outra mão, absolutamente majestoso em seu sorriso com olhos brilhante, seu príncipe guerreiro pronto pare lhe salvar a qualquer momento.